Do rascunho à arte

Pedro Bontorim
2 min readJul 7, 2023

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É fácil e inevitável ficar em choque diante das obras de Michelangelo. De Davi ao teto da Capela Sistina, obras que por mais de 500 anos transcendem e inspiram gerações.

Agora, você já se deparou com a série de esculturas do artista “Prisioneiros”? Na verdade, são obras inacabadas. Grandes blocos de mármore que ficaram pela metade. Boa parte delas, eram esculturas planejadas para ser parte do mausoléu do Papa Júlio II. Porém, o plano megalomaníaco foi descontinuado e as esculturas ficaram pelo caminho. Após a morte do artista, outras 4 esculturas foram encontradas no meio do processo em seu estúdio que se somaram à série.

Olhar para elas me faz pensar na grandeza que deixou de nascer, na vida que não se soltou da pedra, na ideia que se não concretizou. Logo, salto para as canções, livros, filmes, ideais revolucionárias que estão silenciadas dentro de nós esperando para serem lapidadas, libertadas para nascer e transformar? Penso até quantas delas foram enterradas sem conhecer a luz do dia.

Sei que ainda dissipo muita energia e foco que poderiam me ajudar a dar vida a estas ideias, Talvez, a culpa não seja toda minha, nosso tempo veloz e fluído, não nos convida a ter coragem de criar raízes, esmerar, lapidar, enfrentar estes blocos de mármores quase que indecifráveis para tirar a beleza e os segredos dentro dele.

Mas que tal, remar contramaré e garimpar os lampejos de eternidade e genialidade dentro de nós, da nossa mente e do nosso olhar, do nosso coração? Seremos cada vez mais raros e sempre valerá a pena.

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